O Peixe
Pensar
sobre o nosso reflexo no outro (imagem que transmitimos) pode ser uma das
coisas que raramente fazemos. Porém, esta imagem diz muito, podendo ter uma
representação assertiva ou errônea sobre o que somos e aquilo que transmitimos.
A princípio,
o ato de nos enxergamos frente a espelhos já é algo conturbador, pois,
dificilmente percebemos aquilo que nos agrada. As críticas ganham o primeiro
lugar no pódio das nossas opiniões. Encontramos
“defeitos” hipotéticos e que, na maioria das vezes, somente a nossa
singularidade percebe a sua existência.
Tento
me ver no espelho. É difícil me enxergar. Quando capto algo, só vejo defeitos.
No outro, vejo coisas que desejo ou que abomino. Raramente há meio termo. Da
mesma forma que julgo, sou julgado.
Ofuscar
a imagem de quem verdadeiramente somos é também muito comum. Como humanos, temos a tendência de não nos
observar. Perceber, opinar e criticar a imagem do outro é bem mais fácil.
Diversos
ensinamentos poderiam ser extraídos dessa temática ao longo da nossa caminhada.
Entretanto, ainda assim, caímos no mesmo vício de estigmatizar o outro, tendo
como base a nossa percepção visual de mundo, sem ao menos, dar margem para que
as demais percepções atuem em prol de modificar tal pensamento.
Daí a
conclusão, como dizia Jean-Paul Sartre, “O inferno são os outros”.
Neste
sentido, torna-se incontestável o verbete segundo o qual “O feitiço se vira
contra o feiticeiro”. Fato este que nos conduz a reflexões e aprendizados
constantes.
Como
me percebo?
Como quero que me
percebam?
Como acredito que os outros me
percebem?
Estas ideias nos levam a questionamentos intrínsecos, voltando
os olhos ou os espelhos para nós mesmos.
Devido
às condições da vida, não paramos para refletir sobre tais questionamentos.
Comportamo-nos avidamente, sem pensar nestas indagações. Desta maneira, emana o
grande dilema que permeia este processo: o ser ou o parecer.
Lidar com
este dilema causa inquietações, deixando-nos surpresos, confusos e perplexos.
Por vezes, acreditamos que somos e representamos algo e comumente a surpresa
nos assola. Enganamo-nos.
Para ilustrar tal ideia,
transcrevo a história de um rabino polonês, sobre um pescador que certa vez pescou
um salmão e, quando viu seu extraordinário tamanho, exclamou: “Que peixe
maravilhoso! Vou levá-lo ao Barão! Ele adora salmão fresco”.
O pobre peixe consolou-se
pensando: “Ainda posso ter alguma esperança”, afinal esse tal Barão adora
salmão. E lá foi o pescador levar o peixe ao castelo do nobre. Na entrada, o
guarda perguntou:
- O que você tem ai?
- Um salmão – respondeu o
pescador, orgulhoso.
- Ótimo – disse o guarda. – O
Barão adora salmão fresco.
O peixe deduziu que havia mais
motivos para ter esperança. O pescador entrou no palácio, e embora o peixe mal
pudesse respirar, ainda estava otimista. Afinal, o Barão adora salmão, pensou
ele. O peixe foi levado à cozinha, e todos os cozinheiros comentaram o quanto o
Barão gostava de salmão. O peixe foi colocado sobre a mesa, e, quando o Barão
entrou, ordenou:
- Cortem fora a cauda, a cabeça,
e abram o salmão.
Com seu último sopro de vida, o
peixe gritou:
- Por que você mente, deixe-me
viver. Você não gosta de salmão, oras?
Retomando: Como me percebo? Como quero que me percebam? Como acredito
que os outros me percebem?
Somos todos singulares. É por
este motivo que precisamos uns dos outros para dar um real sentido as nossas
vidas. Entretanto, ao pensar nestas indagações podemos realizar a tentativa de
evitar desilusões, frustrações e surpresas. Fica a dica.
Claudiane Quaglia
17/11/2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário