quinta-feira, 17 de novembro de 2016

O Peixe



O Peixe

Pensar sobre o nosso reflexo no outro (imagem que transmitimos) pode ser uma das coisas que raramente fazemos. Porém, esta imagem diz muito, podendo ter uma representação assertiva ou errônea sobre o que somos e aquilo que transmitimos.
A princípio, o ato de nos enxergamos frente a espelhos já é algo conturbador, pois, dificilmente percebemos aquilo que nos agrada. As críticas ganham o primeiro lugar no pódio das nossas opiniões.  Encontramos “defeitos” hipotéticos e que, na maioria das vezes, somente a nossa singularidade percebe a sua existência.
Tento me ver no espelho. É difícil me enxergar. Quando capto algo, só vejo defeitos. No outro, vejo coisas que desejo ou que abomino. Raramente há meio termo. Da mesma forma que julgo, sou julgado.
Ofuscar a imagem de quem verdadeiramente somos é também muito comum.  Como humanos, temos a tendência de não nos observar. Perceber, opinar e criticar a imagem do outro é bem mais fácil.
Diversos ensinamentos poderiam ser extraídos dessa temática ao longo da nossa caminhada. Entretanto, ainda assim, caímos no mesmo vício de estigmatizar o outro, tendo como base a nossa percepção visual de mundo, sem ao menos, dar margem para que as demais percepções atuem em prol de modificar tal pensamento.
Daí a conclusão, como dizia Jean-Paul Sartre, “O inferno são os outros”.
Neste sentido, torna-se incontestável o verbete segundo o qual “O feitiço se vira contra o feiticeiro”. Fato este que nos conduz a reflexões e aprendizados constantes.
Como me percebo? 
Como quero que me percebam? 
Como acredito que os outros me percebem? 
Estas ideias nos levam a questionamentos intrínsecos, voltando os olhos ou os espelhos para nós mesmos.
Devido às condições da vida, não paramos para refletir sobre tais questionamentos. Comportamo-nos avidamente, sem pensar nestas indagações. Desta maneira, emana o grande dilema que permeia este processo: o ser ou o parecer.
Lidar com este dilema causa inquietações, deixando-nos surpresos, confusos e perplexos. Por vezes, acreditamos que somos e representamos algo e comumente a surpresa nos assola. Enganamo-nos.
Para ilustrar tal ideia, transcrevo a história de um rabino polonês, sobre um pescador que certa vez pescou um salmão e, quando viu seu extraordinário tamanho, exclamou: “Que peixe maravilhoso! Vou levá-lo ao Barão! Ele adora salmão fresco”.
O pobre peixe consolou-se pensando: “Ainda posso ter alguma esperança”, afinal esse tal Barão adora salmão. E lá foi o pescador levar o peixe ao castelo do nobre. Na entrada, o guarda perguntou:
- O que você tem ai?
- Um salmão – respondeu o pescador, orgulhoso.
- Ótimo – disse o guarda. – O Barão adora salmão fresco.
O peixe deduziu que havia mais motivos para ter esperança. O pescador entrou no palácio, e embora o peixe mal pudesse respirar, ainda estava otimista. Afinal, o Barão adora salmão, pensou ele. O peixe foi levado à cozinha, e todos os cozinheiros comentaram o quanto o Barão gostava de salmão. O peixe foi colocado sobre a mesa, e, quando o Barão entrou, ordenou:
- Cortem fora a cauda, a cabeça, e abram o salmão.
Com seu último sopro de vida, o peixe gritou:
- Por que você mente, deixe-me viver. Você não gosta de salmão, oras?

Retomando: Como me percebo? Como quero que me percebam? Como acredito que os outros me percebem?


Somos todos singulares. É por este motivo que precisamos uns dos outros para dar um real sentido as nossas vidas. Entretanto, ao pensar nestas indagações podemos realizar a tentativa de evitar desilusões, frustrações e surpresas. Fica a dica.

Claudiane Quaglia
17/11/2016