Nefelibatas
Viver com a cabeça nas nuvens, na utopia, no imaginário, em um mundo idealizado
seria possível?
Nefelibatas
vivem desta maneira, por um período do dia ao menos.
A
palavra nefelibata tem origem do grego "nephele" (nuvem) e "batha", (em que se pode andar). Ou seja,
aquele que "anda nas nuvens". No contexto geral, trata-se de uma
pessoa idealista, descompromissada, que coloca à frente de sua vida aspectos momentâneos,
sem se preocupar com o a amanhã.
Fazendo
uma analogia com uma história contada na tenra infância da Cigarra e da
Formiga, nefelibatas se assemelhariam às Cigarras. Entretanto pessoas com este
comportamento a princípio são julgadas e condenadas pela sociedade. Muitos
dizem que este comportamento não possui objetivos, acreditando que as ações
devem se pautar em ponderações, quantificações e
avaliações constantemente.
Julgar as atitudes e o comportamento
dos outros não nos cabe. O ideal seria aprender e agregar aquilo que nos convém.
Ao pensarmos em pessoas com o comportamento nefelibata podemos nos inspirar, vislumbrando
ter pensamentos mais abertos, pensamentos que tragam inovações, possibilidades
e sonhos.
Perceber a realidade tal qual ela é,
torna-se fundamental para nossa sobrevivência. Entretanto, o excesso desta
percepção, pode se tornar algo patológico, deixando-nos aquém daquilo que
gostamos e das pessoas que amamos.
Transitar entre estes dois mundos pode até ser uma utopia, porém esta busca
não.
Podemos ser suaves quando a ocasião requer uma atitude austera; manter
uma tranquilidade quando tudo que está a sua volta aparenta uma extrema
desordem.
Andar com os pés no chão e com cabeça nas nuvens
em alguns momentos seria uma receita quase infalível para a realização de
sonhos.
Victor Frankl em um de seus livros escreveu
que os sobreviventes dos campos de concentração não foram sempre os mais
fortes, mas aqueles que conseguiam sonhar, apesar da dura realidade. Ao
vislumbrar um horizonte possível, os judeus reuniam estímulos para tocar em
frente. Afinal, sonhar é inventar o futuro.
Ser invadido por sensações difusas faz parte da
vida. O desejo de fazer e pensar algo diferente do que realizamos
rotineiramente nos motiva. Ao adentrarmos em uma perspectiva nefelibata em
alguns momentos de nossas vidas endossamos muitos sonhos e vontades que temos.
Somos diferentes e a diferença é o que propicia a
singularidade de cada um. No texto de Eduardo Galeano retirado do O Livro dos Abraços, esta ideia se faz presente.
Claudiane Quaglia
02/12/2016
O mundo
Um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana.
E disse que somos um mar de fogueirinhas.
— O mundo é isso — revelou — Um montão de gente, um mar de
fogueirinhas.
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras.
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras.
Não existem duas fogueiras iguais.
Existem fogueiras grandes e fogueiras
pequenas e fogueiras de todas as cores.
Existe gente de fogo sereno, que nem
percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas.
Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem
queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível
olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo.
Eduardo Galeano
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