quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Linha Tênue



Linha Tênue



Momentos de hesitação, dúvidas e escolhas se tornam presentes em nossas vidas diariamente.
Escolher aspectos que envolvem situações materiais como a roupa que usaremos, o caminho que iremos percorrer no dia ou até o que iremos comer ainda é menos penoso, pois de certa forma, percebemos os resultados de nossas escolhas de maneira imediata, podendo ser assertiva ou não, mas vislumbramos estas escolhas com base nas nossas percepções.
Entretanto, escolhas que se remetem a sentimentos, carregam em si um pouco mais de trabalho, reflexões e incertezas. Optar pelo que sentimos não é uma tarefa fácil, pois controlar os sentimentos não faz parte da nossa alçada, principalmente porque existe uma linha tênue entre os sentimentos opostos.
Buscando na etimologia da palavra “tênue”, constata-se que ela vem do latim “tenuis” (sutil, delgado, pouco denso), da mesma raiz de “tendere” (alongar e, por consequência, afinar, enfraquecer). Desta maneira, penso eu, quanto mais alongamos sentimentos, mais frágil a linha se torna e, consequentemente, outros sentimentos emergem, nossa visão muda e aquilo que era tido como certo nos surpreende.
Sentimentos nos pregam esta peça. Estamos sempre a caminhar por uma linha sutil, que expressa uma relação de proximidade entre dois conceitos. Exemplo disso é que, quando queremos sentir coragem, a insegurança está ali pronta para entrar em ação; quando queremos sentir alegria, por vezes, a tristeza se encontra escondida; almejamos ficar tranquilos, mas em pouco tempo a ansiedade toma conta de nossos pensamentos; sentimo-nos vitoriosos, mas ao olhar para o lado a inferioridade está ali à espreita.
Ou seja, não é fácil sentir; não é fácil distinguir; não é fácil acreditar que não conseguimos nos controlar em tudo. Porém, é magnifico viver, se surpreender e se conhecer sempre mais a cada dia e a cada novos sentimentos que temos.
O texto de Carlos Drummond de Andrade, abaixo transcrito, pode nos auxiliar neste entendimento. Texto este, que traz reflexões não só sobre o. sofrer, mas também sobre o sentir, sobre o querer, sobre o viver, sobre o escolher e sobre o aprender a nos conhecer sempre.


Claudiane Quaglia

20/10/2016


DEFINITIVO! 

Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

Sofremos por quê?
Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos. 
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.
Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco,
mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema,
para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.
Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco,
mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando
a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.
Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Por que sofremos tanto por amor?

O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso:

Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.... 

Carlos Drummond de Andrade