Linha
Tênue
Escolher
aspectos que envolvem situações materiais como a roupa que usaremos, o caminho que
iremos percorrer no dia ou até o que iremos comer ainda é menos penoso, pois de
certa forma, percebemos os resultados de nossas escolhas de maneira imediata,
podendo ser assertiva ou não, mas vislumbramos estas escolhas com base nas
nossas percepções.
Entretanto,
escolhas que se remetem a sentimentos, carregam em si um pouco mais de
trabalho, reflexões e incertezas. Optar pelo que sentimos não é uma tarefa
fácil, pois controlar os sentimentos não faz parte da nossa alçada,
principalmente porque existe uma linha tênue entre os sentimentos opostos.
Buscando na etimologia
da palavra “tênue”, constata-se que ela vem do latim “tenuis” (sutil, delgado,
pouco denso), da mesma raiz de “tendere” (alongar e, por consequência, afinar,
enfraquecer). Desta maneira, penso eu, quanto mais alongamos sentimentos, mais
frágil a linha se torna e, consequentemente, outros sentimentos emergem, nossa
visão muda e aquilo que era tido como certo nos surpreende.
Sentimentos nos
pregam esta peça. Estamos sempre a caminhar por uma linha sutil, que expressa
uma relação de proximidade entre dois conceitos. Exemplo disso é que, quando
queremos sentir coragem, a insegurança está ali pronta para entrar em ação;
quando queremos sentir alegria, por vezes, a tristeza se encontra escondida; almejamos
ficar tranquilos, mas em pouco tempo a ansiedade toma conta de nossos
pensamentos; sentimo-nos vitoriosos, mas ao olhar para o lado a inferioridade está
ali à espreita.
Ou seja, não é
fácil sentir; não é fácil distinguir; não é fácil acreditar que não conseguimos
nos controlar em tudo. Porém, é magnifico viver, se surpreender e se conhecer
sempre mais a cada dia e a cada novos sentimentos que temos.
O texto de
Carlos Drummond de Andrade, abaixo transcrito, pode nos auxiliar neste
entendimento. Texto este, que traz reflexões não só sobre o. sofrer, mas também
sobre o sentir, sobre o querer, sobre o viver, sobre o escolher e sobre o
aprender a nos conhecer sempre.
Claudiane Quaglia
20/10/2016
DEFINITIVO!
Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.
Sofremos por quê?
Porque
automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas
nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido
ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de
ter tido junto e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que
gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos.
Por
todos os beijos cancelados, pela eternidade.
Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco,
mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema,
para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.
Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco,
mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando
a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.
Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.
Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.
Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso:
Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável. O sofrimento é opcional....
Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco,
mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema,
para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.
Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco,
mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando
a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.
Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.
Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.
Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso:
Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável. O sofrimento é opcional....
Carlos Drummond de Andrade