Casca
de Pão
O pão pode ser
considerado um dos alimentos que faz parte da história da humanidade. Em vários
momentos o pão se fez presente, tendo o objetivo de alimentar ou de trazer à
tona reflexões sobre partilha e egoísmo. Um alimento que traz consigo
ensinamentos e força.
Este alimento faz parte
do no nosso cotidiano. Em vários locais e culturas o pão está presente,
apresentando-se de diferentes formas, sabores, aromas, cores e texturas, saciando
a fome de quem está faminto.
Dificilmente percebemos
que em objetos, instrumentos ou alimentos podemos aprender algo. Normalmente
buscamos ensinamentos em livros, meios tecnológicos, ou até mesmo nas conversas
com pessoas mais sábias. A vida nos ensina o tempo todo. Talvez o que não
aprendemos é enxergar isso.
Especificamente o pão em
sua forma topográfica é constituído de miolo e casca, sendo que na maioria das
vezes a preferência se dá pelo miolo, pois é mais macio e saboroso, já que tem
suas peculiaridades. Degustamos e sentimos o verdadeiro sabor do pão quando
chegamos ao seu miolo.
Entretanto, este alimento
também é constituído da sua casca. Aquela que o protege, que é aparente,
passível de observações e julgamentos.
Por uma analogia como
pão, podemos refletir com qual parte nos assemelhamos mais em alguns momentos
da vida. Será que estamos mais parecidos com o miolo do pão? Saboroso, porém de
difícil acesso e frágil. Ou será que temos similaridades com a casca do pão? A
casaca demonstra força e rigidez, mas indica um fechamento constante.
Criamos uma casca em
torno de nós mesmos. Assim, evitamos que as pessoas nos conheçam de verdade. Deixamos
de mostrar aquilo que somos e aquilo que acreditamos.
A individualidade árdua
nos persegue e decorrente deste processo parece que a casca do nosso pão só vai
aumentando e protegendo-nos mais.
Muitos acreditam que o
sofrimento e as decepções fazem parte da vida e que assim aprendemos a ser
fortes. Como se, desta maneira, tornássemos resistentes e imunes ao sofrimento.
Demostrar nossos
sentimentos não é algo fácil. Nem todos estão preparados para compreender, ou
melhor dizer, para ter acesso ao miolo do nosso pão.
Porém, se nos acostumarmos
somente com a casca, nem nós mesmos saberemos qual é o nosso verdadeiro sabor.
Tornamo-nos rígidos, deixamos de conhecer aquilo que nos constitui, nossos
gostos, desejos, prazeres e anseios. Desconhecemos a nossa essência.
Degustar um pão é algo
prazeroso. A junção da casca com o miolo é que retém o verdadeiro sabor.
Assim, ao reconhecermos e
aceitarmos que somos passíveis de diversos sentimentos, sejam eles benéficos ou
não, podemos entender que estes “ingredientes” são necessários e fundamentais
para sermos nós mesmos. Somente assim sentiremos o sabor de uma iguaria.
Como diz um trecho da
música Dom de Iludir de Caetano Veloso “Cada um sabe a dor e a delícia. De ser
o que é”.
Que esta premissa seja
real em nossas vidas.
Claudiane Quaglia
Psicóloga e
Pedagoga
CRP 06/134348 - 16/03/2017