Provisório
Constantemente
buscamos efetivar ações e momentos em nossas vidas. Porém, não percebemos que
cada ato possui um caráter provisório.
A menção de
que as situações de caráter provisório vêm acompanhada de algo que logo passa e
que, em seguida, teremos uma situação definitiva esta incutida em nós.
O dilema já
tirava os sono dos gregos antigos. Enquanto Parmênides defendia a ideia de que
as coisas eram estáticas e insuscetíveis de mudanças, Heráclito acreditava num mundo em constante movimento e transformação. Tudo
flui, tudo passa, dizia Heráclito, de tal forma que nunca tomamos banho na
mesma água do rio.
O exemplo?
Podemos
resgatar no período de nossa infância: os dentes de leite são provisórios, pois
em seguida passamos para o patamar de uma dentição definitiva. Na adolescência,
as mudanças corporais são provisórias para depois nos apropriamos de um corpo
definitivo, que tende a mudar, a envelhecer. Isso ocorre em várias situações de
nossa existência.
Esta
dualidade entre as concepções de provisório e definitivo, daquilo que é ou não
imutável, tende a se generalizar em outras dimensões da vida.
Somos e
sempre seremos provisórios em nossas vidas.
Este estado
provisório tende a nos incomodar, pois queremos que as coisas, que as relações
ou que o tempo se tornem definitivos, permanentes e duradouros. Nem sempre é
assim.
As visões de
continuidade, controle e constância levam-nos para um estado de sofrimento,
pois almejamos que as situações que consideramos boas se prolonguem.
A condição de
sermos provisórios, nos constitui e nos desenvolve.
Podemos optar
por uma profissão hoje e mudar depois de um tempo; podemos ter relações
afetivas que nos agregam, mas sempre teremos uma nova pessoa para conhecer.
Sempre
seremos superiores ao passado. Por mais que existam alguns momentos que nos
desagradam, sempre estamos diferentes.
A vida não
tem relógio de ponto. Não se apresenta de hora marcada. Não tem garantias. É
uma verdadeira aventura a ser levada a sério, pois tudo só é enquanto não se
esvai.
A diferença está em ser e não em ter. Com
razão Clarice Lispector ao escrever: “A vida é curta (provisória), mas as
emoções que podemos deixar duram uma eternidade”.
Psicóloga,
Pedagoga e Psicopedagoga
CRP 06/134348 – 18/07/2017