terça-feira, 18 de julho de 2017

Provisório



Provisório


Constantemente buscamos efetivar ações e momentos em nossas vidas. Porém, não percebemos que cada ato possui um caráter provisório.
A menção de que as situações de caráter provisório vêm acompanhada de algo que logo passa e que, em seguida, teremos uma situação definitiva esta incutida em nós.
O dilema já tirava os sono dos gregos antigos. Enquanto Parmênides defendia a ideia de que as coisas eram estáticas e insuscetíveis de mudanças, Heráclito acreditava num mundo em constante movimento e transformação. Tudo flui, tudo passa, dizia Heráclito, de tal forma que nunca tomamos banho na mesma água do rio.
O exemplo?
Podemos resgatar no período de nossa infância: os dentes de leite são provisórios, pois em seguida passamos para o patamar de uma dentição definitiva. Na adolescência, as mudanças corporais são provisórias para depois nos apropriamos de um corpo definitivo, que tende a mudar, a envelhecer. Isso ocorre em várias situações de nossa existência.
Esta dualidade entre as concepções de provisório e definitivo, daquilo que é ou não imutável, tende a se generalizar em outras dimensões da vida.
Somos e sempre seremos provisórios em nossas vidas.
Este estado provisório tende a nos incomodar, pois queremos que as coisas, que as relações ou que o tempo se tornem definitivos, permanentes e duradouros. Nem sempre é assim.
As visões de continuidade, controle e constância levam-nos para um estado de sofrimento, pois almejamos que as situações que consideramos boas se prolonguem.
A condição de sermos provisórios, nos constitui e nos desenvolve.
Podemos optar por uma profissão hoje e mudar depois de um tempo; podemos ter relações afetivas que nos agregam, mas sempre teremos uma nova pessoa para conhecer.
Sempre seremos superiores ao passado. Por mais que existam alguns momentos que nos desagradam, sempre estamos diferentes.
A vida não tem relógio de ponto. Não se apresenta de hora marcada. Não tem garantias. É uma verdadeira aventura a ser levada a sério, pois tudo só é enquanto não se esvai.
A diferença está em ser e não em ter. Com razão Clarice Lispector ao escrever: “A vida é curta (provisória), mas as emoções que podemos deixar duram uma eternidade”.

Claudiane Quaglia
Psicóloga, Pedagoga e Psicopedagoga

CRP 06/134348 – 18/07/2017