Três Tempos
Não é raro encontramos pessoas em nossas vidas que
nos levam a um passado, simplesmente porque estas pessoas nos trazem lembranças
de comportamentos, sensações e contextos. É a nossa memória ativada. De outro
lado, também por vezes nos deparamos com outras pessoas que nos inspiram e nos
motivam para o futuro. É o nosso desejo aguçado. Raramente porém nos damos
conta do nosso tempo no hoje, no aqui e no agora.
Um dos grandes dilemas da humanidade é vivenciar o momento
que estamos presenciando em plenitude. Aproveitar as pequenas coisas, que até parecem
simples, é necessário. Só quando as perdemos, temos a real noção da falta que
elas fazem.
Viver o hoje, desfrutar as experiências, aproveitar
as oportunidades, apreciar o que nos é dado e ser feliz no nosso tempo e espaço
pode se tornar, muitas vezes, um grande obstáculo na vida. A dicotomia
resultará em lamurias, arrependimentos, angustias, mágoas, esgotamentos, expectativas
e sonhos frustrados, que nos assolam. Muitas vezes, não entendemos o motivo de
tal sofrimento, não só próprio mas também do outro.
Fazendo uma analogia com o ato de dirigir um
veículo, podemos melhor compreender a ideia dos três tempos cronológicos que
nos acompanham e nos assolam.
Quando olhamos pelos retrovisores do veículo,
percebemos o que se passou, o que ficou para trás e distante da gente. Os
retrovisores possuem uma estrutura pequena, localizados nas laterais e no centro
do carro. São instrumentos necessários e fundamentais para uma boa direção. Neles
olhamos apenas algumas vezes. Não dirigimos olhando pelo retrovisor o tempo
todo. O passado está lá. Faz parte do trajeto. Podemos optar em visitá-lo ou não.
Sabemos que sem ele não poderemos dirigir por muito tempo. Ele, o passado, ao
mesmo tempo que nos completa, constitui-nos e ensina-nos.
Ao olharmos para frente, temos bem próximo de nós o
para-brisa, um vidro grande, através do qual avistamos o que vem pela frente. Uma
curva? Quem sabe. Talvez algo perigoso ou até mesmo algo muito bonito,
agradável, enfim, aquilo que buscamos. Porém, não estamos lá. É o futuro. Somente
avistamos e imaginamos o que poderá acontecer quando chegarmos ao lugar almejado
ou ao nosso objetivo traçado. Olhamos para frente a quase todo momento enquanto
dirigimos. Em nossa vida estamos, muitas vezes, assim também: só olhando para o
que vem pela frente. Esquecemos do agora.
O fundamental neste processo
de olhar para trás ou de vislumbrar o que vem pela frente está no ato em si de dirigir
o carro, de viver o momento, sabendo as marchas que devem ser trocadas,
sentindo a temperatura dentro do carro, percebendo quantos movimentos fazemos ao
mesmo tempo para guiar esta máquina. Acontece que, muitas vezes, nem nos damos
conta disso tudo, pois infelizmente ficou tudo no automático. É assim, infelizmente,
com nossa vida.
Viver a vida no automático pode até parecer mais viável
em um primeiro momento, devido às diferentes situações que passamos.
Entretanto, se tivermos a compreensão de que somos seres finitos, talvez este
modo mecânico deixe de tomar conta de nossas ações e assim possamos dirigir
pela estrada que optarmos, vendo o que passou, imaginando o que vem pela frente
e principalmente aproveitando o hoje, o aqui e o agora. Boa viagem!
Claudiane Quaglia
13/10/2016