Faz
parte?
Recordações de pessoas que
pronunciavam a frase “faz parte” em nossa infância tendem a nos acompanhar na
vida adulta. Aprendemos isso também nas fábulas infantis, contos folclóricos e
desenhos animados.
Perante a vontade de
buscar um objetivo, acreditamos que teremos um obstáculo a enfrentar para,
assim, valorizarmos nossas conquistas.
“Faz parte”.
Esta frase se remetia, ou
ainda se remete, a um tipo de consolo ou acalento perante aquilo que almejamos.
Por exemplo, para passar de uma série escolar para outra, o processo avaliativo
faz parte; para se alcançar o sucesso, o esforço/trabalho faz parte. Haveria,
assim, entre uma coisa e outra uma intrínseca relação, quase uma dependência.
Relações de causa e
efeito foram sendo consolidadas em nossas vidas sem que ao menos tivéssemos ciência
deste processo. Sempre aceitamos o conteúdo da frase “faz parte” com
benevolência. Era quase um determinismo.
Por isso, via de regra, acreditamos
que uma situação árdua sempre precede o êxito. Devido a esta crença,
reproduzimos isso também. Percebemo-nos, então, em um ciclo vicioso de
sofrimento e empolgação.
Na empolgação, a
conotação “faz parte” se encontra em um contexto em que situações desagradáveis
podem ser previstas e percebidas como impulsos. É motivação para se avançar e
buscar algo melhor.
No sofrimento (aceitação),
a frase “faz parte” se complica, pois nos perdemos perante os fatos que chegam
até nós. Ficamos paralisados e protelamos atitudes. Aceitamos verdades e
chegamos a dar uma dimensão maior para a causa em vez de focar no efeito.
Ficamos com a sensação de que estamos imobilizados.
Encontrar a solução para
o conflito entre os sentimentos de empolgação e sofrimento seria algo utópico de
se imaginar. Contudo, podemos refletir sobre isso ao perceber que a cada dia
estamos expostos a novas experiências, as quais podemos perceber de maneira
singular e benéfica para nós, o que é fundamental.
A leitura que fazemos
perante os fatos vivenciados dialogam diretamente com a maneira como nos
comportamos. Neste contexto, ao percebermos
as situações por diferentes óticas, esta prática tende a aprimorar o nosso
crescimento individual.
Isso sim, “faz parte” da
vida.
Claudiane Quaglia
Psicóloga e
Pedagoga
CRP 06/134348 -
02/03/2017