quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Pó de Café


Pó de Café

Conviver com as pessoas e manter relacionamentos nem sempre é fácil. Relacionamentos sociais, amorosos ou familiares sempre demandam uma entrega, um desejo, um afeto, uma identificação. Sentimentos estes revestidos de prazer e vontade.
Mas nem tudo são flores. Relacionamentos também causam conflitos, dores, frustrações, expectativas, ansiedades, angustias e ilusões.
Criamos relacionamentos perfeitos conforme nossos desejos e muitas vezes ignoramos que, para se relacionar, precisamos do outro, de um outro diferente da gente.
Buscando a etimologia da palavra “relacionar”, constata-se que ela vem do Latim “relatio”, cujo significado remete a restauração, como ato de trazer de volta. O sentido de “estabelecer uma ligação entre pessoas” é do século XVIII, e nesta linha que estamos a caminhar.
Torna-se difícil, em cada relacionamento, saber a maneira mais adequada que devemos nos comportar. Em alguns momentos o relacionamento nos solicita uma postura dócil, altruísta, respeitosa e maleável, cedendo muitas vezes aos nossos anseios pessoais.
Entretanto, em outros momentos devemos ter uma postura que transpareça força, tomando decisões, negando algumas situações, tendo um comportamento de imposição do que queremos e de quem somos. Por vezes, isso poderá decepcionar os outros.
Lidar com este dilema constantemente nos afeta de maneira abrupta. Percebemo-nos perdidos, sem saber qual caminho tomar. Não reconhecemos nossas ações e consequentemente fechamos ou extravasamos demais nossas emoções, pois, acima de tudo, queremos manter os relacionamentos, já que são fundamentais para nossas vidas. Mas como?
Neste sentido, a frase de Aristóteles, "a virtude está no meio", traz uma possível luz para este dilema.
A busca por esta virtude nos assola constantemente.  Em meio a esta aflição, diante dos relacionamentos, buscamos procurar um meio termo em nossos comportamentos perante o contexto que vivemos (nem sempre e fácil). Desta maneira, vislumbramos agregar mais experiências e relacionamentos em nossas vidas.
Essa dúvida se torna um enigma para muitas pessoas. Para pensar um pouco sobre este assunto, transcrevo uma história da sabedoria popular, de autor desconhecido. Espero que ajude a todos neste processo de reflexão. 
“Virtus in Medium est”

Claudiane Quaglia
27/10/2016


“Um filho foi queixar-se da vida para o pai, alegando que estava passando por muitas dificuldades. O pai, em meio às suas panelas, como grande chefe de cozinha que era, aproveitou o momento para dar uma lição de vida ao filho. Olhando para o rapaz falou:
            - Filho, observe estas três panelas. Cada uma delas possui um alimento diferente: na primeira, há cenouras; na segunda, ovos; e na terceira, pó de café. Vou colocar água nas três para ferver.
            Depois de alguns minutos, perguntou ao filho o que havia acontecido com os alimentos. Observando as três panelas, o filho respondeu:
            - Noto que as cenouras, que eram duras, tornaram-se macias; os ovos, que eram frágeis, ficaram duros; e o pó de café transformou a água.
            Neste momento, o pai concluiu dizendo:

            - Pois é, meu filho. Os relacionamentos com as pessoas muitas vezes nos atingem como essa água quente, e podemos reagir como a cenoura, o ovo ou o pó de café. Como a cenoura quando nos deixamos amolecer pelas dificuldades de nos perceber. Como o ovo, quando nos tornamos duros demais. E como o pó de café, quando nos deixamos transformar em meio as relações que cultivamos, sem perder a nossa essência.”