quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Nefelibatas




Nefelibatas

Viver com a cabeça nas nuvens, na utopia, no imaginário, em um mundo idealizado seria possível?
            Nefelibatas vivem desta maneira, por um período do dia ao menos.
A palavra nefelibata tem origem do grego "nephele" (nuvem) e "batha", (em que se pode andar). Ou seja, aquele que "anda nas nuvens". No contexto geral, trata-se de uma pessoa idealista, descompromissada, que coloca à frente de sua vida aspectos momentâneos, sem se preocupar com o a amanhã.
Fazendo uma analogia com uma história contada na tenra infância da Cigarra e da Formiga, nefelibatas se assemelhariam às Cigarras. Entretanto pessoas com este comportamento a princípio são julgadas e condenadas pela sociedade. Muitos dizem que este comportamento não possui objetivos, acreditando que as ações devem se pautar em ponderações, quantificações e avaliações constantemente.
            Julgar as atitudes e o comportamento dos outros não nos cabe. O ideal seria aprender e agregar aquilo que nos convém. Ao pensarmos em pessoas com o comportamento nefelibata podemos nos inspirar, vislumbrando ter pensamentos mais abertos, pensamentos que tragam inovações, possibilidades e sonhos.
            Perceber a realidade tal qual ela é, torna-se fundamental para nossa sobrevivência. Entretanto, o excesso desta percepção, pode se tornar algo patológico, deixando-nos aquém daquilo que gostamos e das pessoas que amamos.
Transitar entre estes dois mundos pode até ser uma utopia, porém esta busca não. 
Podemos ser suaves quando a ocasião requer uma atitude austera; manter uma tranquilidade quando tudo que está a sua volta aparenta uma extrema desordem.
Andar com os pés no chão e com cabeça nas nuvens em alguns momentos seria uma receita quase infalível para a realização de sonhos.
 Victor Frankl em um de seus livros escreveu que os sobreviventes dos campos de concentração não foram sempre os mais fortes, mas aqueles que conseguiam sonhar, apesar da dura realidade. Ao vislumbrar um horizonte possível, os judeus reuniam estímulos para tocar em frente. Afinal, sonhar é inventar o futuro.
Ser invadido por sensações difusas faz parte da vida. O desejo de fazer e pensar algo diferente do que realizamos rotineiramente nos motiva. Ao adentrarmos em uma perspectiva nefelibata em alguns momentos de nossas vidas endossamos muitos sonhos e vontades que temos.
Somos diferentes e a diferença é o que propicia a singularidade de cada um. No texto de Eduardo Galeano retirado do O Livro dos Abraços, esta ideia se faz presente.

Claudiane Quaglia
02/12/2016

O mundo

Um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana.
E disse que somos um mar de fogueirinhas.
— O mundo é isso — revelou — Um montão de gente, um mar de fogueirinhas.
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras.
Não existem duas fogueiras iguais.
Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores.
Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas.
Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo.


Eduardo Galeano