Passa
Anel
Não se sabe ao certo nem como
e nem quando iniciou. Dificilmente se encontra alguém com mais experiência que
a desconhece. A brincadeira infantil conhecida em muitos lugares do Brasil como
“Passa Anel”, consiste em uma forma de comunicação por meio da qual um anel é
repassado de mão em mão, enquanto alguém descobre com quem está o objeto. Uma brincadeira
que envolve relações com o outro.
Este ato de brincar se
faz presente em nossas vidas e não percebemos, ou seja, vivenciamos uma
constante ludicidade, considerando suas diferentes complexidades.
Resgatamos do pretérito
diversas maneiras de comunicação, tanto pelas nossas expressões ou palavras quanto
pela forma, hoje com um auxílio de inúmeros meios tecnológicos.
Comunicamo-nos. Passamos para
o outro olhares, intenções e até julgamentos. Enfim, estamos sempre passando o
nosso “anel” para alguém.
Na infância, em cuja fase
as atitudes egoístas ganham evidência, tudo para que possamos entender o que é
nosso e o que é do outro, somos estimulados a passar, a compartilhar e a
repartir.
No contato com o outro,
passamos muitas coisas e recebemos outras tantas. Nem sempre este processo é
agradável ou positivo, pois advém de um encontro. Segundo o autor Jacob Levy
Moreno, a palavra “encontro” contém como raiz a palavra “contra”. Abrange não
apenas as relações amáveis, como também as relações hostis e ameaçadoras:
opor-se a alguém, contrariar. Encontro é um conceito em si, único e
insubstituível.
De certa forma, sempre
estamos vivenciando encontros e passando algo, mesmo sem a real intenção ou ciência
deste ato. Assim, transmitimos sentimentos, comportamentos e impressões. É
sempre uma troca mútua.
Parece que a vida se
tornou um constante passar e estamos passando por tudo e por todos de maneira
acelerada, como se este ato fosse uma confirmação de algo. Mas de quê?
Na lembrança nostálgica da
brincadeira infantil abordada, existia o momento de que quando alguém passava o
anel, esta pessoa tinha um critério estabelecido para tal, um objetivo. O
processo era mais singular, verdadeiro e genuíno.
Atualmente passamos
nossos “anéis” para quem afinal?
Será que temos um
objetivo, uma seleção, um critério?
A brincadeira mencionada
nos deixa muitos ensinamentos. Talvez o esquecimento dos critérios a deturpou
atualmente. Na relação com o outro, apreendemos a passar e a receber, como tão
bem a brincadeira da tenra infância nos ensinou.
Resgatar os critérios do
que passamos a alguém ou do que recebemos pode fazer uma grande diferença. A
vida está mudando sempre. Como lidar com
estas mudanças implica em muitas coisas, como, por exemplo, perceber-se nesta
mudança como o “dono da sua brincadeira” e não como o anel que é passado de mão
em mão. É compreender-se como sujeito da sua história e não como objeto.
Brincadeiras de crianças ensinam
muito para vida. O que atrapalha é acreditarmos que eram somente brincadeiras
inocentes.
Claudiane Quaglia
Psicóloga e
Pedagoga
CRP 06/134348 - 23/02/2017