quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Passa Anel



Passa Anel

Não se sabe ao certo nem como e nem quando iniciou. Dificilmente se encontra alguém com mais experiência que a desconhece. A brincadeira infantil conhecida em muitos lugares do Brasil como “Passa Anel”, consiste em uma forma de comunicação por meio da qual um anel é repassado de mão em mão, enquanto alguém descobre com quem está o objeto. Uma brincadeira que envolve relações com o outro.
Este ato de brincar se faz presente em nossas vidas e não percebemos, ou seja, vivenciamos uma constante ludicidade, considerando suas diferentes complexidades.
Resgatamos do pretérito diversas maneiras de comunicação, tanto pelas nossas expressões ou palavras quanto pela forma, hoje com um auxílio de inúmeros meios tecnológicos.
Comunicamo-nos. Passamos para o outro olhares, intenções e até julgamentos. Enfim, estamos sempre passando o nosso “anel” para alguém.
Na infância, em cuja fase as atitudes egoístas ganham evidência, tudo para que possamos entender o que é nosso e o que é do outro, somos estimulados a passar, a compartilhar e a repartir.
No contato com o outro, passamos muitas coisas e recebemos outras tantas. Nem sempre este processo é agradável ou positivo, pois advém de um encontro. Segundo o autor Jacob Levy Moreno, a palavra “encontro” contém como raiz a palavra “contra”. Abrange não apenas as relações amáveis, como também as relações hostis e ameaçadoras: opor-se a alguém, contrariar. Encontro é um conceito em si, único e insubstituível.
De certa forma, sempre estamos vivenciando encontros e passando algo, mesmo sem a real intenção ou ciência deste ato. Assim, transmitimos sentimentos, comportamentos e impressões. É sempre uma troca mútua.
Parece que a vida se tornou um constante passar e estamos passando por tudo e por todos de maneira acelerada, como se este ato fosse uma confirmação de algo.  Mas de quê?
Na lembrança nostálgica da brincadeira infantil abordada, existia o momento de que quando alguém passava o anel, esta pessoa tinha um critério estabelecido para tal, um objetivo. O processo era mais singular, verdadeiro e genuíno.
Atualmente passamos nossos “anéis” para quem afinal?
Será que temos um objetivo, uma seleção, um critério?
A brincadeira mencionada nos deixa muitos ensinamentos. Talvez o esquecimento dos critérios a deturpou atualmente. Na relação com o outro, apreendemos a passar e a receber, como tão bem a brincadeira da tenra infância nos ensinou.
Resgatar os critérios do que passamos a alguém ou do que recebemos pode fazer uma grande diferença. A vida está mudando sempre.  Como lidar com estas mudanças implica em muitas coisas, como, por exemplo, perceber-se nesta mudança como o “dono da sua brincadeira” e não como o anel que é passado de mão em mão. É compreender-se como sujeito da sua história e não como objeto.
Brincadeiras de crianças ensinam muito para vida. O que atrapalha é acreditarmos que eram somente brincadeiras inocentes.


Claudiane Quaglia
Psicóloga e Pedagoga

CRP 06/134348 - 23/02/2017