quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Três Tempos



Três Tempos

Não é raro encontramos pessoas em nossas vidas que nos levam a um passado, simplesmente porque estas pessoas nos trazem lembranças de comportamentos, sensações e contextos. É a nossa memória ativada. De outro lado, também por vezes nos deparamos com outras pessoas que nos inspiram e nos motivam para o futuro. É o nosso desejo aguçado. Raramente porém nos damos conta do nosso tempo no hoje, no aqui e no agora.
Um dos grandes dilemas da humanidade é vivenciar o momento que estamos presenciando em plenitude. Aproveitar as pequenas coisas, que até parecem simples, é necessário. Só quando as perdemos, temos a real noção da falta que elas fazem.
Viver o hoje, desfrutar as experiências, aproveitar as oportunidades, apreciar o que nos é dado e ser feliz no nosso tempo e espaço pode se tornar, muitas vezes, um grande obstáculo na vida. A dicotomia resultará em lamurias, arrependimentos, angustias, mágoas, esgotamentos, expectativas e sonhos frustrados, que nos assolam. Muitas vezes, não entendemos o motivo de tal sofrimento, não só próprio mas também do outro.
Fazendo uma analogia com o ato de dirigir um veículo, podemos melhor compreender a ideia dos três tempos cronológicos que nos acompanham e nos assolam.
Quando olhamos pelos retrovisores do veículo, percebemos o que se passou, o que ficou para trás e distante da gente. Os retrovisores possuem uma estrutura pequena, localizados nas laterais e no centro do carro. São instrumentos necessários e fundamentais para uma boa direção. Neles olhamos apenas algumas vezes. Não dirigimos olhando pelo retrovisor o tempo todo. O passado está lá. Faz parte do trajeto. Podemos optar em visitá-lo ou não. Sabemos que sem ele não poderemos dirigir por muito tempo. Ele, o passado, ao mesmo tempo que nos completa, constitui-nos e ensina-nos.
Ao olharmos para frente, temos bem próximo de nós o para-brisa, um vidro grande, através do qual avistamos o que vem pela frente. Uma curva? Quem sabe. Talvez algo perigoso ou até mesmo algo muito bonito, agradável, enfim, aquilo que buscamos. Porém, não estamos lá. É o futuro. Somente avistamos e imaginamos o que poderá acontecer quando chegarmos ao lugar almejado ou ao nosso objetivo traçado. Olhamos para frente a quase todo momento enquanto dirigimos. Em nossa vida estamos, muitas vezes, assim também: só olhando para o que vem pela frente. Esquecemos do agora.
            O fundamental neste processo de olhar para trás ou de vislumbrar o que vem pela frente está no ato em si de dirigir o carro, de viver o momento, sabendo as marchas que devem ser trocadas, sentindo a temperatura dentro do carro, percebendo quantos movimentos fazemos ao mesmo tempo para guiar esta máquina. Acontece que, muitas vezes, nem nos damos conta disso tudo, pois infelizmente ficou tudo no automático. É assim, infelizmente, com nossa vida.
Viver a vida no automático pode até parecer mais viável em um primeiro momento, devido às diferentes situações que passamos. Entretanto, se tivermos a compreensão de que somos seres finitos, talvez este modo mecânico deixe de tomar conta de nossas ações e assim possamos dirigir pela estrada que optarmos, vendo o que passou, imaginando o que vem pela frente e principalmente aproveitando o hoje, o aqui e o agora. Boa viagem!

Claudiane Quaglia

13/10/2016

2 comentários:

  1. Uma excelente viagem...
    Sua referência ao piloto automático me trouxe a luz as convulsões e síncopes "psíquicas" que acontecem com os que nunca "enlouqueceram". Não é a loucura de verdade, é a fantasia. A fantasia de atuar. A fantasia de não atuar, pra realizar.
    Enquanto lia, viajei também para O sol Também se Levanta do grande Ernest - a arte não deve vislumbrar nações, pena que o homem a sistematiza e a vende - Hemingway. Ali lembro de um homem que vivia pelo retrovisor, que chorou numa noite, que amou uma mulher, e que seguiu; que admirou o que estava a frete do para-brisa. um motorista não percebe aquele grande pedaço de vidro até que a chuva ofusque a grandiosidade do que realmente exite além da falsa transparência. Aquele personagem, talvez, tenha optado por um caminho prático, pelo que viu - e só ele sabe o que viu - no retrovisor.
    Gostei da sua conjuntura. De estar dentro de um carro - de estacioná-lo e capotá-lo.
    Minha filosofia é uma filosofia comum (capotar, parar, pensar e voltar, ou nunca mais). Que pena não poder avançar mais. Todo o mundo deve pintar as portas de azul em Macondo, ou passar o sangue do cordeiro nas portas.
    Uma vez conheci um homem que olhava para o céu de forma invertida, que pena que ele morreu. Mas ele falou, e falou muito antes de morrer.
    Obrigado por nos fazer pensar - e agora falo de mim - sobre o tempo, o caminho, e principalmente a curva defronte ao para-brisa. Como já foi cantado: " Eu não sou senhor do tempo, mas eu sei que vai chover"
    Agradecido por mais um texto, que além de provocar a pensar transporta para tudo... tudo que vale a pensa refletir: há cristãos que vivem a volta de cristo; em que direção eles olham? Marx, Smith, Ubaldo Ribeiro. como é bom estar dentro do carro e ter o poder de olhar para frente, para os lados e para trás.
    Um Abraço...

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