quinta-feira, 9 de março de 2017

Avante ou Volver?



Avante ou Volver?


Quando seguir e quando retroceder?
Eis um dilema que acompanha muitas pessoas, tanto no sentido físico, como no sentido afetivo e emocional.
A expressão avante resgata a vontade de avançar, de seguir adiante. Comumente, escuta-se isso durante o processo de desenvolvimento, principalmente frente às atitudes desbravadoras. Desde sempre buscamos utopicamente superar as adversidades, buscando algo melhor para nossas vidas.
Porém, quando nos deparamos com a maturidade em nossa estrada, muitos expressam um desejo interno de volver, ou seja, voltar para um tempo em que as exigências e cobranças eram menores, no qual os julgamentos externos não tinham magnitude e a aceitação social se sobressaia.
Por vezes, resgatamos comportamentos da nossa fase infantil, sem que tenhamos a real noção disso. Em momentos de carência e fragilidade, talvez.
Devido a este fato, muitas pessoas se rotulam ou são rotuladas como imaturas.
Voltar no tempo, resgatando momentos em que algumas pessoas tinham atitudes de cuidados, proteção e defesa constantemente já não é mais possível. O tempo é implacável e passa para todos. A fase adulta chega e com ela novos comportamentos nos são cobrados. É preciso se “adequar”.
Perante este fato, que é imutável, podemos sim volver nossas memórias, para assim percebermos que a base para o avante sempre nos foi dada, mas em um outro momento e contexto.
Vivemos em um constante embate. Temos ações contrárias com aquilo que sabemos e imaginamos. Assim, o avante pode ser sinônimo de motivação, objetivo, resiliência e sonho. Tirando-nos da inércia e de um passado que não tem como volver em sua essência.
Como um exemplo deste volver as memórias, o super-herói mais famoso da história Super-homem usava a frase “Para o alto e avante”.
Que possamos escolher direção para onde queremos chegar conforme nossos anseios, mas sabendo, que esta direção se constitui em um volver acompanhado de um avante sempre.

Claudiane Quaglia
Psicóloga e Pedagoga
 CRP 06/134348 - 09/03/2017

Um comentário:

  1. Este texto coloca nos em face da uma das questões centrais e decisivas da vida de cada pessoa, a escolha entre uma alternativa excludente. Permanecer no lugar onde se encontra, mantendo seus vínculos de todo o tipo aos valores, aos hábitos, as coisas e as pessoas do seu ecossistema doméstico ou situacional, ou avançar criando novos tipos de vinculações.
    Evidentemente que há sempre algo que permanece na mudança, agora o que importa é a determinação do valor tanto do que se abandona, e isso se pode quantificar, e o que se pode alcançar, que por ser hipotético se não pode calcular. O que permanece na mudança varia, sempre tanto daquilo em que se mudou como do modo como o sujeito o interpreta, e tal condiciona o lugar e o modo como é feita a interpretação do que foi deixado de parte.
    Eu creio que a escolha é uma dimensão inscrita na própria vida animal, e num sentido lato o animal primata faz suas avaliacões e escolhe a um certo nível, porque o que determina a sua escolha esta pré-programado. No nosso caso, sistemas abertos, a escolha é determinada com base em complexos mecanismos mentais, de que pouco sabemos na hora actual.
    Este aspecto social bem como a legitimação num quadro ideológico do que deveriam ser as condutas a ter para cada indivíduo, dava ao individuo o quadro normativo de uma mudança bem como de uma permanecia.
    Nos hoje estamos numa situação de falência de todas as meta-narrativas históricas, e tal situação coloca cada ser humano numa dificuldade acrescida de ter de fazer sua vida, feita sempre de mudanças superficiais ou fundas, na máxima incerteza.
    Talvez pela primeira vez na historia o ser humano tenha feito a experiencia do que é ser livre, pois está sozinho e não há nada no firmamento que lhe indique o caminho a tomar. E por isso, como já dizia Sartre, a escolha faz-se na angústia, onde há sofrimento pela memória do que se larga e pela esperança frágil, receosa, daquilo para que se parte.
    Contudo eu creio que esta condicão nossa de incerteza deva ser vista não tanto como impasse mas como oportunidade. Então ficar ou avançar passam aser vistos como deafios, e qualquer que seja a escolha ela serve para nos persuadirmos de que não estamos no mundo para viver na passividade da aceitação. Mas na actividade de quem se questiona e quer o que lhe é mais próprio, e o escolhe de novo, ficando ou avançando. Em qualquer destes termos se afirma a potencia de viver, a que nos justifica e que nos traz ou anuncia a felicidade.
    Considero que, como suporte ou estrato que pode facilitar a escolha mais acertada a fazer, entre o avançar ou o retroceder, se encontra um conjunto de virtudes facilitantes desde sempre faladas pelos filósofos….a prudencia, a sabedoria, a generosidade, a tolerância e a coragem.
    Saúdo a doutora e minha amiga Claudiane pelo seu investimento em trazer ao debate público temas como este, de interesse geral.
    A psicologia no seu âmbito próprio, e pelos seus métodos, procura também criar as boas oportunidades junto dos utentes para que olhem suas vidas de um modo real, e sejam capazes nas condições que são as suas, de proceder a suas escolhas, vencendo seus dilemas.










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